sábado, 20 de março de 2010


"Embriagai-vos!"

É necessário estar sempre bêbedo.
Tudo se reduz a isso; eis o único problema.
Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo,
que vos abate e vos faz pender para a terra,
é preciso que vos embriagueis sem cessar.

Mas - de quê?
De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.
Contanto que vos embriagueis.

E, se algumas vezes,
nos degraus de um palácio,
na verde relva de um fosso,
na desolada solidão do vosso quarto,
despertardes,
com a embriaguez já atenuada ou desaparecida,
perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola,
a tudo o que canta, a tudo o que fala,
perguntai-lhes que horas são;
e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio,
hão de vos responder:

- É a hora da embriaguez!
Para não serdes os martirizados escravos do Tempo,
embriagai-vos sem tréguas!
De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.

Charles Baudelaire

3 comentários:

  1. Embriagarmo-nos...
    Hum que delicia é esta de viver bebendo...
    Bebericando aqui e ali...
    Pedaços de gente, de vida...
    De vidas que com a nossa vida se entrelaça...
    E assim de mãos dadas...
    Embriagados...
    Nessas mãos já embriagadas de sonhos
    Sonhados...
    E sofregamente vividos na embriaguez do momento...

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